Treta: Kendrick Lamar vs Drake

Kendrick Lamar | Drake
Kendrick Lamar | Drake - Fotos: Joseph Okpako/WireImage | Prince Williams/Wireimage

A treta entre Kendrick Lamar vs Drake tem sido um dos temas mais discutidos no rap americano, caracterizada por uma série de alfinetadas e confrontos diretos. Desde o início cordial da relação até os recentes desentendimentos e respostas afiadas, a rivalidade entre os dois rappers se transformou em um dos maiores conflitos do cenário musical atual. Este artigo analisa a evolução dessa rivalidade, desde as primeiras parcerias e alfinetadas até os embates mais recentes.

Drake e Kendrick Lamar começaram sua relação de forma amigável. A primeira colaboração entre eles ocorreu com a participação de Lamar em “Buried Alive Interlude“, do álbum “Take Care” de Drake, lançado em 2011. A colaboração entre Lamar e Drake continuou forte quando Lamar e A$AP Rocky se juntaram a Drake como artistas de abertura na turnê “Club Paradise” em 2012. Além disso, ainda nesse ano, Lamar e Drake colaboraram na faixa “Fuckin’ Problems” de A$AP Rocky. Além disso, em 2012, Drake também participou da música “Poetic Justice” com Lamar.

Em 14 de agosto de 2013, Kendrick Lamar fez críticas a Drake e a vários outros rappers na faixa “Control” de Big Sean, afirmando que sentia “amor” por todos eles, mas estava determinado a “superar” todos na cena. Duas semanas depois, em uma entrevista à Billboard, Drake desconsiderou o verso de Lamar, dizendo: “Pra mim, pareceu só uma declaração ambiciosa. Só isso. Eu sei muito bem que o [Lamar] não tá me matando, de forma alguma, em nenhuma plataforma.”

Além disso, em setembro, Drake participou da série de entrevistas ao vivo “#CRWN” de Elliott Wilson. Quando questionado sobre o verso de “Control”, Drake observou que a atitude de Lamar pessoalmente contradizia o que ele expressou na música. “Eu encontrei com ele no VMA cinco dias depois, e tava tudo tranquilo… Se a mensagem realmente é ‘que se dane todo mundo’, então tem que ser ‘que se dane todo mundo’. Não pode ser apenas uma parte disso.”

No dia 24 de setembro de 2013, Drake lançou ‘Nothing Was the Same’, seu terceiro álbum de estúdio. Vários veículos interpretaram o primeiro verso de “The Language”, o quinto single do álbum, como uma resposta ao verso de Lamar em “Control”. Birdman, chefe da então gravadora de Drake, “Cash Money Records”, afirmou que a música não era sobre Lamar. Em outubro, durante o cypher do BET Hip Hop Awards de 2013, Lamar rimou: “Nada foi o mesmo desde que lançaram ‘Control’ / E colocaram um rapper sensível de volta em seu pijama”. Essas linhas foram amplamente interpretadas como novos ataques a Drake e uma resposta a “The Language”, especialmente porque Lamar parece fazer referência ao álbum “Nothing Was the Same” de Drake.

Em 17 de dezembro de 2013, foi lançado um remix da música “Shit” de Future, com a participação de Drake e Juicy J. Os fãs e a mídia começaram a especular que o verso de Drake no remix poderia ser um ataque a Lamar. No mesmo dia, Anthony “Top Dawg” Tiffith e Punch, figuras chave da gravadora de Lamar, a Top Dawg Entertainment, responderam no Twitter, minimizando os supostos ataques de Drake. Dois dias após o lançamento da faixa, Drake abordou o verso de Lamar em seu cypher no BET Hip Hop Awards de 2013 e na música “The Language” em uma matéria de capa para a Vibe.

Ele zombou da ideia de uma suposta relação de “amizade” e afirmou que já tinha “defendido [seu] espaço” em resposta a “Control”. No entanto, Drake afirmou que “The Language” não era uma resposta direta a Lamar. Ele também elogiou Lamar como um “gênio por direito próprio” e reiterou que não havia “nenhum problema real” entre eles. Em junho de 2014, Drake publicou um vídeo no Instagram em que canta “Cut You Off (To Grow Closer)” da mixtape “Overly Dedicated” de Lamar, lançada em 2010.

Em 29 de outubro de 2014, Jay Rock lançou a música “Pay for It”, que contou com a participação de Lamar. Além disso, o verso de Lamar incluiu referências que pareciam fazer alusão a Drake, mencionando trechos da música “The Language” do rapper. No entanto, em uma entrevista à “Dazed”, publicada em 3 de novembro de 2014, Lamar esclareceu: “Eu não tenho problemas com o Drake.” Em 4 de novembro de 2014, Lamar participou do programa de rádio “The Breakfast Club” e afastou ainda mais a ideia de uma “rivalidade” entre ele e Drake. “Não tinha nenhum problema desde o começo. Acho que as pessoas falam sobre rivalidade… é uma dinâmica completamente diferente. Não consigo me ver competindo linha a linha com o Drake. Somos dois tipos diferentes de artistas.”

Apesar das negações anteriores de Drake e Lamar, a rivalidade entre eles persistiu na forma de indiretas. A Billboard classificou essas provocações como “alfinetadas discretas de ambos os lados, mas sem grande inovação.” Marc Griffin, ao elaborar uma linha do tempo da rivalidade para a Vibe, comparou esse período a uma ‘Guerra Fria’ entre os dois artistas.

Em uma análise das possíveis indiretas na mixtape “If You’re Reading This It’s Too Late” de Drake, lançada em fevereiro de 2015, Brandon Caldwell, da Billboard, sugeriu que as faixas “Used To” e a faixa bônus “6PM in New York” contêm versos que podem ser direcionados a Lamar. Em 15 de março de 2015, Lamar lançou seu terceiro álbum de estúdio, “To Pimp a Butterfly”. Embora o terceiro single do álbum, “King Kunta”, inicialmente tenha recebido pouca atenção no contexto da rivalidade entre Drake e Lamar, ele ganhou destaque quando Meek Mill acusou Drake de usar ghostwriters no Twitter.

Após essas acusações se tornarem públicas, as linhas “Um rapper com um ghostwriter? Que p**** aconteceu? / Eu jurei que não ia contar / Mas a maioria de vocês compartilha linhas como se tivessem a cama de baixo em uma cela de dois” de “King Kunta” foram interpretadas como possíveis indiretas de Lamar para Drake. O álbum ‘Compton’ de Dr. Dre, lançado em agosto de 2015, também inclui faixas como ‘Darkside / Gone’ e ‘Deepwater’, nas quais os versos de Lamar foram interpretados por alguns como possíveis críticas direcionadas a Drake.

Em 15 de janeiro de 2016, o então presidente Barack Obama participou de uma série de entrevistas conduzidas por influenciadores do YouTube. Durante uma dessas entrevistas, o influenciador Adande Thorne questionou Obama sobre quem ele achava que sairia vencedor em uma rivalidade entre Drake e Lamar. Obama respondeu: “Vou de Kendrick. Acho o Drake um artista excepcional. Mas o Kendrick, as letras dele – [“To Pimp a Butterfly”] foi incrível. Melhor álbum, eu acho, do ano passado.” Quinze dias depois, Drake lançou “Summer Sixteen”, fazendo uma alusão a Obama com as linhas: “Diz pro Obama que meus versos são como os carros que ele usa / À prova de balas”.

Em 23 de março de 2017, Lamar lançou “The Heart Part 4”, que foi amplamente vista como uma “diss” direcionada a Big Sean ou Drake. Além disso, mais tarde, Lamar fez uma referência explícita às linhas de “The Heart Part 4” na música “Euphoria”, lançada em 2024, o que parece confirmar a percepção de que a faixa original era, de fato, um ataque a Drake.

A quinta música do álbum “Mr. Morale & The Big Steppers”, lançado em maio de 2022, “Father Time” (com participação de Sampha), incluía um verso de Lamar que fazia referência à breve reconciliação entre Kanye West e Drake durante suas respectivas rivalidades: “Quando o Kanye voltou com o Drake, fiquei um pouco confuso / Acho que não sou tão maduro quanto penso, ainda tenho algumas feridas pra curar”. Essas linhas foram interpretadas por alguns veículos como possíveis críticas a Drake e West, embora também possam ser vistas como Lamar expressando surpresa pela reconciliação entre os dois. Além disso, em setembro de 2021, Joe Budden alegou que Lamar alfinetou Drake na faixa “Family Ties”, lançada no mês anterior por Baby Keem e Lamar.

Em outubro de 2023, na faixa “First Person Shooter” de Drake, J. Cole sugeriu que ele, Drake e Lamar formavam o “Big Three” dos rappers do hip-hop moderno, além de afirmar que era o melhor dos três atualmente. Em 22 de março de 2024, Lamar respondeu à ideia do “Big Three” na faixa “Like That”, em colaboração com Metro Boomin e Future, alfinetando Cole e Drake com a rima: “Que se f*** o ‘Big Three’, mano, é só grande eu.”

A “diss” levou Cole a lançar uma faixa de resposta, “7 Minute Drill”, na qual ele critica “To Pimp a Butterfly”. No entanto, nos dias seguintes, Cole se desculpou publicamente no palco pelo lançamento da música e removeu ela dos serviços de streaming. Durante sua turnê, Drake não mencionou diretamente a música ‘Like That’, mas declarou em um show: ‘Estou de cabeça erguida… e sei que, aconteça o que acontecer, ninguém no planeta pode competir comigo.

Em 13 de abril de 2024, versões iniciais da música “Push Ups” de Drake vazaram online. Na faixa, que serve como resposta ao verso de Lamar em “Like That”, o rapper canadense afirma que vários artistas são superiores a Lamar, incluindo 21 Savage, Travis Scott e SZA. Além disso, Drake critica várias pessoas que se posicionaram contra ele após o lançamento do verso de Lamar, incluindo Metro Boomin, Future, The Weeknd e Rick Ross. Em “Push Ups”, Drake também faz piada sobre a altura de Lamar, que é de 1,65 metros.

Em 19 de abril de 2024, no mesmo dia do lançamento oficial de “Push Ups”, Drake também lançou “Taylor Made Freestyle”, outra “diss” direcionada a Lamar. Além disso, a música apresentava vocais gerados por IA dos rappers Tupac Shakur e Snoop Dogg. A família de Shakur desaprovou o uso do verso gerado por IA e ameaçou Drake, exigindo a remoção da música das redes sociais, alegando violação dos direitos de personalidade de Tupac e pelo ataque a um amigo da família: “O uso não autorizado e igualmente perturbador da voz de Tupac contra Kendrick Lamar, que deu apenas respeito a Tupac e seu legado publicamente e em privado, agrava o insulto.”

Drake também acusou Lamar de não responder “Push Ups” porque não queria prejudicar o desempenho do álbum de Taylor Swift, “The Tortured Poets Department”, nas paradas; Drake criticou Lamar por colaborar com Swift e outros artistas pop. “Taylor Made Freestyle” foi removida pelo rapper canadense no dia 26 de abril de 2024.

Em 30 de abril de 2024, Lamar lançou uma “diss” chamada “Euphoria” em resposta a Drake, o que pode ser uma referência ao programa de TV “Euphoria”, do qual Drake é produtor executivo. A Vulture descreveu a faixa como uma demonstração de “ódio puro” de Lamar por Drake. Na música, Lamar critica a paternidade de Drake, afirmando: “Eu tenho um filho para criar, mas vejo que você não entende nada sobre isso.” Além disso, ele também sugere que os músculos abdominais de Drake foram obtidos através de cirurgia plástica.

Em 3 de maio de 2024, Drake lançou a faixa ‘Family Matters’ como uma resposta a “Euphoria” e “6:16 in LA”, alegando que um dos filhos de Lamar é, na verdade, filho biológico de Dave Free, amigo e colaborador de Lamar. Além disso, ele também acusa Lamar de ser abusivo em casa e infiel em seu relacionamento com sua noiva, Whitney Alford. A faixa também é direcionada a A$AP Rocky e Metro Boomin, que colaboraram com Future na “diss” “Show of Hands”.

Em 3 de maio de 2024, Drake lançou “Family Matters” como resposta a “Euphoria” e “6:16 in LA”. Na faixa, Drake alega que um dos filhos de Lamar é biologicamente de Dave Free, amigo e parceiro de negócios de Lamar. Além disso, ele também acusa Lamar de ser abusivo em casa e infiel em seu relacionamento com sua noiva, Whitney Alford. A faixa também é direcionada a A$AP Rocky e Metro Boomin, que colaboraram com Future na “diss” “Show of Hands”.

Drake usou o Instagram para anunciar “Family Matters”, ao mesmo tempo em que postou um remix curto de “Buried Alive Interlude”, conhecido como “Buried Alive Interlude, Pt. 2”.

Apenas 20 minutos depois, Lamar lançou outra “diss” direcionada a Drake, intitulada “Meet the Grahams”, produzida por Alchemist. Na faixa, Lamar se dirige diretamente aos membros da família de Drake, oferecendo desculpas ao filho de Drake, Adonis, por ter um pai como Drake. Lamar afirma que Drake está escondendo um segundo filho (uma filha), que tem atração sexual por menores e que comanda uma rede de exploração sexual. Além disso, Lamar critica afiliados da “OVO” de Drake, alegando que são criminosos sexuais protegidos por Drake e sua equipe de segurança. Ele prevê que a mansão de Drake “tá prestes a ser invadida”, se referindo às operações federais na mansão de Sean “Diddy” Combs.

A alegação de um suposto segundo filho por Lamar surgiu no contexto da “diss” de Pusha T de 2018, “The Story of Adidon”, na qual Pusha T revelou publicamente que Drake estava escondendo um filho chamado Adonis. Em resposta, Drake fez um comentário no Instagram dizendo: “Nahhhh, pera aí, alguém pode encontrar minha filha escondida e me enviar… Esses caras tão em apuros”, acompanhado de vários emojis de risada. Além disso, fãs descontentes com a suposta “mentira” sobre a filha escondida postaram uma versão editada da faixa nas redes sociais, na qual removeram o terceiro verso de “Meet the Grahams”, levando Lamar e sua gravadora a registrarem uma violação de direitos autorais.

Em 4 de maio de 2024, Kendrick Lamar lançou “Not Like Us”, produzida pelo DJ Mustard. Na faixa, Lamar faz referências mais explícitas sobre Drake e membros de seu círculo íntimo, chamando eles de pedófilos, com a linha: “Fala, Drake, ouvi dizer que você gosta das novinhas / É melhor nunca ir pro bloco um de celas”. Além disso, Baka Not Nice, um membro da equipe de segurança de Drake, é mencionado na linha “Baka tem um caso estranho, por que ele anda por perto?”, aludindo à prisão de Baka e às alegações de tráfico sexual, agressão e roubo, que envolvem uma mulher de 22 anos que ele supostamente forçou à prostituição em 2014. Sua condenação envolveu somente uma acusação de agressão e uma outra separada de posse de armas ilegais.

Lamar também sugere que usar uma versão de IA da voz de Tupac desrespeitaria Drake em São Francisco e arredores, com a linha: “Acho que o show em Oakland vai ser sua última parada”, e sugere ter muitas futuras “diss” preparadas. Além disso, a capa da faixa mostra uma imagem de satélite da mansão de Drake, marcada com pins representando predadores sexuais. Após o lançamento da música, fãs marcaram a mansão de Drake no Google Maps, personalizando o local com termos como “Propriedade do Kendrick”, “A-Minor”, referindo-se ao primeiro verso de “Not Like Us”, e “Cachorro do Kendrick”, possivelmente uma referência ao álbum de Drake, “For All the Dogs”.

Em 5 de maio de 2024, Drake lançou “The Heart Part 6”, um título que faz referência à série “The Heart” de Kendrick Lamar, especialmente à aclamada “The Heart Part 5”. Na faixa, Drake refuta as alegações de pedofilia e manipulação feitas por Lamar. Ele alega que as acusações de Lamar se baseiam no trauma resultante de experiências de abusos que ele teria sofrido. Além disso, a faixa utiliza um sample de ‘Prove It’ de Aretha Franklin, incorporando a linha: ‘Vamos ver você provar isso agora / Só me mostra que você pode provar isso’.”

Drake responde com a linha: “Só me relacionando com Whitneys, não com Millie Bobby Browns, eu nunca olharia duas vezes pra uma adolescente”, em referência à sua amizade com a atriz Millie Bobby Brown, que começou quando ela tinha 14 anos e levou a críticas nas redes sociais sobre uma possível manipulação de Drake.

Drake também afirma que seu círculo íntimo forneceu informações falsas a Kendrick Lamar sobre ele ter uma filha de 11 anos, alegação que Lamar fez em “Meet the Grahams”. Além disso, Drake alega que houve casos de violência doméstica no relacionamento de Lamar com Whitney Alford e que Lamar não vê seus filhos há seis meses. Após o lançamento, Drake antecipou que Lamar responderia rapidamente e comentou nas redes sociais: “Sabemos que você vai publicar uma resposta em breve, então, ao invés de simplesmente divulgar meu endereço, você tem muito a esclarecer.” Com uma recepção desfavorável, “Heart Part 6” somou mais de 1 milhão de deslikes no YouTube.

Em 4 de julho de 2024, o clipe de ‘Not Like Us’ foi divulgado para celebrar o Dia da Independência dos Estados Unidos. Dave Free e Kendrick Lamar dirigiram o clipe, e Charm La’Donna foi responsável pela coreografia, além de ser creditada como produtora associada. O vídeo conta com a participação de Tommy the Clown e é ambientado na cidade natal de Lamar, Compton, na Califórnia. Além disso, na manhã seguinte ao lançamento, o vídeo já havia alcançado mais de 13 milhões de visualizações no YouTube.

A CNN e a NME destacaram a grande expectativa em torno do vídeo até seu lançamento. Diversas publicações e sites o consideraram mais um triunfo de Lamar em sua rivalidade com Drake. O vídeo refutou muitas das alegações feitas por Drake, mostrando a família de Lamar dançando alegremente e creditando “Dirigido por Dave Free e Kendrick Lamar” nos créditos. O clipe foi visto como um marco no retorno da rivalidade entre Lamar e Drake, sendo descrito como uma resposta contundente de Lamar para seu adversário.